30
Trinta foram os minutos que disse que iria escrever por dia, não a mim, mas a quem perguntou.
Uma alma caridosa gravou-me um áudio que dizia "Escreve meia hora Leonardo", três vezes, e ouvia-se também um piano.
Esta noite voltei a ouvir o piano, mas em imagens.
Bastaram-me trinta segundos de um documentário sobre a Antártida (Antarctica: A Year on Ice) para saber que a dada altura da minha vida quero afastar-me de tudo, experimentar silêncio, solidão, paz de forma absoluta – mesmo que por um dia.
É pouco provável que me deixem experimentar estes clichés todos lá. Ainda assim, há algo a passar-se por aquelas terras geladas que não acontece em mais lado nenhum, que eu nem sabia que o homem é capaz de fazer: NÃO INTERFERIR.
Isto do não interferir não vem de uma passividade mórbida, mas de um respeito absoluto pela natureza e pelo que é. Lá deixam que as coisas tomem o seu curso. Uma das imagens que mais me chocou foi ver uma foca que se desviou do caminho morrer. Se não estivessem a observar, as coisas iriam processar-se exatamente da mesma maneira. A foca iria perder-se, morrer, congelar, descongelar e servir de alimento a uma ave qualquer.
Naquela morte vi uma certa beleza, sabia que não fazia mal, é o que é suposto acontecer e, garantidamente, vai acontecer com tudo e todos.
No mundinho em que vivemos interfere-se. Cortam-se milhões de árvores que estão ali porque sim e plantam-se algumas para ladear as avenidas que impermiabilizaram quilometros de terra. Pegam-se em animais inocentes, alimentamos com comida geneticamente modificada e depois matamos. Deus nos livre de deixar uma cadeia de fast-food abrir falência.
Não me apetece dar mais exemplos, mas tal como me disse muitas vezes a minha mãe, "às vezes mais vale tar quiete".
Se têm mais de 30 ou não, não importa, estarão sempre em idade de se manterem quietos e observarem.
Podem, quiçá, só precisar de 30 segundos.
Fica aqui o trailer do documentário para quem quiser ver: